O pátio: habitação da precedência anunciada. E o acurado
jardim atravessado a passos curtos e sem repouso: não há assentos nesse espaço
lapidado (embora as pedras sejam dorsos mansos oferecendo-se à carícia das
mãos) que permitam mais do que estar de passagem. Devaneios de contemplação são
vivenciados com o corpo em movimento durante a travessia. De passos e
circunspecção se faz a presença oculta, cúpula aberta no centro do claustro,
entremeada por camélias tenras que aquecem a luz esverdeada abandonada pelos
cantos umedecidos de musgos. Eternizado pelo relógio de sol, o líquen do tempo
avança enquanto o interior das celas que ladeiam rasteiras o jardim vai se
alquebrando.
O olhar túrgido, habituado à tepidez dos corredores e dos
quartos, se contrai diante da claridade condensada em volta da terra cultivada
e se distende para além das grades dessas celas sombrias, despovoadas. Pássaros
sulcam a latência do ar e insetos vibram por baixo de espessas verduras – o
jardim engendra e guarda em seu bojo o grão mais precioso do santuário: as
catacumbas.
Formoso e astuto modo de emoldurar (enfatizando e
protegendo) o reduto sagrado! Sob a terra que ostenta a florescência cálida do
jardim, por baixo da madeira dos corredores, escorando as gavetas nomeadas do
túnel fúnebre - a raiz opaca exposta, desdobrada aos nossos pés. Eis o tesouro
resguardado: o afloramento rochoso respirando, veio nu preservado na escuridão,
estirpe do mundo que precede o pensamento – fornalha vital sobre a qual se
equilibra a arquitetura inteira do santuário.
Nenhum comentário:
Postar um comentário