Santuário do Caraça

À pergunta - o que é o Caraça? - poderíamos responder:
um conceito de vida, uma forma de existir, uma filosofia tanto mais real quanto mais poética.
{ Henriqueta Lisboa }


Revelo aqui um pouco da potência da vida exuberante que um lugar pode guardar. Sempre haverá o que experimentar, (re)conhecer e com o que se deleitar no Caraça, desde o nítido esplendor da flora e fauna até os meandros da história da construção e da vida do santuário. Nesse espaço virtual faço a minha tentativa de dar forma ao alumbramento dos dias que vivi por lá – e que permanecem vibrando em mim.


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Invólucro Florido

O pátio: habitação da precedência anunciada. E o acurado jardim atravessado a passos curtos e sem repouso: não há assentos nesse espaço lapidado (embora as pedras sejam dorsos mansos oferecendo-se à carícia das mãos) que permitam mais do que estar de passagem. Devaneios de contemplação são vivenciados com o corpo em movimento durante a travessia. De passos e circunspecção se faz a presença oculta, cúpula aberta no centro do claustro, entremeada por camélias tenras que aquecem a luz esverdeada abandonada pelos cantos umedecidos de musgos. Eternizado pelo relógio de sol, o líquen do tempo avança enquanto o interior das celas que ladeiam rasteiras o jardim vai se alquebrando.

O olhar túrgido, habituado à tepidez dos corredores e dos quartos, se contrai diante da claridade condensada em volta da terra cultivada e se distende para além das grades dessas celas sombrias, despovoadas. Pássaros sulcam a latência do ar e insetos vibram por baixo de espessas verduras – o jardim engendra e guarda em seu bojo o grão mais precioso do santuário: as catacumbas.

Formoso e astuto modo de emoldurar (enfatizando e protegendo) o reduto sagrado! Sob a terra que ostenta a florescência cálida do jardim, por baixo da madeira dos corredores, escorando as gavetas nomeadas do túnel fúnebre - a raiz opaca exposta, desdobrada aos nossos pés. Eis o tesouro resguardado: o afloramento rochoso respirando, veio nu preservado na escuridão, estirpe do mundo que precede o pensamento – fornalha vital sobre a qual se equilibra a arquitetura inteira do santuário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário